quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O amigo

      
        Eu nunca achei que as coisas terminariam do jeito que terminou. Eu nunca nem imaginei que começariam do jeito que começou. Mas, começou... E uma coisa foi levando à outra e quando me dei conta, já era tarde demais. Não havia um caminho de volta. Me vi perdida no meio de beijos, abraços e embaraços. Não havia como fugir.
      Toda vez que o via, com aquela carinha cínica, cheia de malícia, pedindo o meu corpo junto ao seu, todas as minhas células lutavam, travavam uma luta interminável; era o meu corpo querendo o que a minha mente incansavelmente proibia. E se alguém ainda tem dúvida do rumo que as coisas tomavam, eu acabava caindo no mesmo erro sempre, e me entregava de corpo e alma àquele amor, àquela paixão proibida.
       Ele era meu amigo. Meu melhor amigo. Mas, a gente não beija a boca do nosso melhor amigo... O que era aquilo, então? E quando menos esperava, me pegava distraída, longe do mundo e das conversas ao redor, pensando no meu suposto amigo, em quanto as suas mãos na minha cintura faziam falta; em quanto aquele cabelo desarrumado fazia falta aos meus olhos. 
      Me vi em uma estrada completamente desconhecida. Eu que sempre fui tão segura das minhas ações e pensamentos, me encontrei em um campo de batalha, mas precisamente no campo inimigo. Estava caminhando por terras nunca antes tocadas e podia sentir o vento soprando no meu rosto, sem rumo, da mesma forma que eu. Sabia que podia me machucar a qualquer momento. E eu estava com medo. Não era acostumada a não conseguir controlar os meus pensamentos. Mas tenho que admitir, foi uma sensação boa a de não saber qual o próximo passo. 
      E resolvi, então, me deixar levar, vivenciar uma nova experiência sem tentar definir o que aquilo significava pra mim. Minha consciência não cessava em gritar no meu ouvido que aquilo tudo estava errado e que eu era, afinal, uma grande idiota. E aquilo me doía, me corroía. Eu só queria poder gritar pra todo mundo o quanto ele me fazia bem e o quanto eu precisava dele. Mas eu não podia. A minha integridade não permitia.
      Cada vez mais, me via dependente daquele amor. Passar um dia sem sentir as suas mãos, a sua boca, o seu cheiro parecia um inferno. E o que pra mim, a priori, parecia um "fica" qualquer, um mero passatempo, já não o era há tempos. Talvez já não fosse desde o princípio e, talvez, eu e meu orgulho bobo é que não quiséssemos admitir.
      Entretanto, como nada é para sempre, ainda mais em se tratando de uma história complicada, sem pé nem cabeça como a nossa, uma hora ia acabar. Nós dois sabíamos disso. Chega um determinado momento em que temos que crescer e amadurecer. Os anos começam a pesar e não dá pra ficar "fazendo besteiras" por aí despreocupadamente. Minha consciência já não gritava mais... Ela urrava! Eu já não mais me podia fazer de surda.
      E assim, terminou. Do mesmo jeito que começou: sem explicações, sem entendimentos, apenas com palavras balbuciadas sem sentido. Naquele dia, senti um peso enorme sendo retirado das minhas costas. Mas foi naquele dia também que senti meu coração sendo arrancado brutalmente do meu peito. Senti uma dor insuportável, indescritível, e as lágrimas (leia-se cachoeiras) que vieram a seguir, só fizeram provar que aquilo tudo era real e que eu nunca poderia chamá-lo de MEU. A não ser de "meu amigo".
      E aqui estou eu, remexando no meu passado, trazendo dores e sofrimentos à tona, os quais, entretanto, se fazem necessários. Eu tinha essa necessidade de relembrar tudo, desde o súbito e inesperado começo, para poder finalmente conseguir colocar um ponto final nessa história e seguir em frente. 
      Se um dia me perguntassem se me arrependo de tudo o que fiz, eu diria que não. Apesar do início e fim incertos e errados, eu tomei as minhas decisões e escolhi, pela primeira vez, pensar um pouco em mim e não ter o controle da situação, como estava acostumada a ter. E se não deu certo, bola pra frente. De uma coisa eu tenho certeza: eu fui feliz. Uma eternidade ou um segundo. E posso dizer que fui feliz... Com o meu melhor amigo. 

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